segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

#19:28

meu chinelo já não me serve,
azul, preto, o cinza.

nem quarenta e dois, nem um.
não existe numeração para um poder pisar,
me perco em ferro, madeira, pó.

não tenho preocupação de cabeça,
não faço por existir.

ontem eu existi, amanhã eu chorei.
a canção das flores se perdeu no meu presente,
e tudo que eu olhei, hoje está congelado, frio.

maçã apodrece em meu tato,
e tudo o que me sobra é sono.

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

#13:59

deitei na minha mesma cama, sempre lá, dois travesseiros de pano florido e colcha azul. Me perdi por duas horas, abri os olhos, vi, senti, passei a mão em tudo que meu estômago mandou pra fora, o meu resto e o meu essencial, tudo agora estava no chão do meu quarto, eu na posição de um animal, que antes era o mais feroz e hoje está velho. Deitei em cima daquilo que parecia ser meu, que se dizia ser meu. Não haviam rosas, não havia humanidade. Eu que sempre acreditei no ser Humano. Agora sim, poderia falar de desilusões sobre as afirmações das minhas tias do ensino fundamental. Desenhei com a ponta da faca por todo meu corpo. Nada de interessante, nada que eu possa comparar com algum pintor, ou qualquer cara que traga alguma referência. Eram só rabiscos, mas nada que atingisse um por cento da genialidade de Basquiat. Era tudo vermelho, mas não era uma instalação de Cildo Meireles. Era algo meu, que só me pertencia, não queria dividir, era meu resto, minha essência e meu vermelho-rosa-magenta. Ninguém viu. Ninguém vai sentir.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

#sem título

menina, aguenta ai
e se exploda.
o bicho de nove patas está na esquina,
todo azul-marrom
como nos seus fetiches.

se vibrar você se vira.

na lapa é ano novo.
abraços à catraca.
trânsito na entrada do motel
mas o churrasquinho mal passado tem no serviço de quarto.
a CPTM virou a noite acesa.
se chover não molha.

carne de sol, vinho, tabaco seco. aceso.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sem Título - #07.11

Solto um "AH" como quem tem uma urgência-sobrevivência.

Preciso gritar para ele, mas minha frequência não emociona. Meus curtos braços só alcançam os ares daqui debaixo. Se eu pudesse estar por toda sala, quem sabe a paz estivesse em alguma célula do meu corpo; poderia lhe tocar; alterar sua textura, suas cores.

Havendo água a me oferecer eu não dependeria de "AH" ou dos longos braços, estaria feliz por ser o menor possível, sua paz seria a minha. Seriamos dupla.

AH! Quão utópico são meus pensamentos.

Utópico ou não, ainda quero gritar. Voar e gritar.

Meu Deus não deu voz e asas, mas deu a mim a impossível tarefa de não te desejar.

Laranjeira azul,

um dia chego na lua.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

17:13 - café, chantilly, tinta nova.

Fazem quarenta e sete horas que deitei com a janela aberta. Quarenta e sete horas esperando qualquer célula reprodutora ou não entrar; esperando sem boas ou más expectativas através de meus olhos e todo o meu corpo, que é de uma cor não uniforme; qualquer sensação que venha me movimentar na minha cama bege; meus seios estão de fora; estes são meus seios, sem graça, de tom universal; meus mamilos não sentem frio. Estou a uma espera - sem afeto.

Eu; pessoa; corpo; alma; célula; bicho. Quarenta e sete horas sem me movimentar, minha janela, esta que é só minha, está aberta. Fico aqui, a mercê de uma sensação que me tire dessa forma clássica européia.

Do lado de la há mentira, corpos sem célula, fumaça, sapatos, papéis solto, líquidos, líquidos. Eu quero o aqui e não o de lá. Aqui não há sono. Aqui é completo de nada.

Seja o que for, venha cheio de vazio. O meu nada aceita apenas o que é completo de nada. Meu percurso é vazio, não precisa de algo. Se for entrar, tenho uma janela aberta, se for me possuir, meus olhos estão estalados.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

#10-11 10:36 - Moonshiner - Cat Power

Praticamente tudo amanheceu escuro, cinzento, um azul mórbido e parado. O sol ali estava, mas pouco importava, ela não amanheceu loiro, nem avermelhado, muito menos com um laranja-nascer-do-sol. Para ele que acordou com o cigarro na boca, notou que as únicas cores mais atraentes eram de seu isqueiro, que eram visíveis em: 1, 2, 3, no máximo 4 segundos. Ele tentou reanimar- se nessa manhã. Mas ele já leu todos os livros de sua prateleira. Alguns até duas vezes. A agulha do seu toca-disco amarelo estava quebrada, nada de música nessa manhã. Nada para essa manhã.

Deitou. Seus sentimentos foram embora de madrugada. Ascendeu outro cigarro. Filtro vermelho, claro. Dor no peito, uma dor de nada, de não existir nada. Lembrou que hoje tem que ir pro escritório, mais um nada no seu dia. Sua droga estava no criado-mudo, sem pensar muito, e sem auxílio de canudo, papel, nota de 5 reais, ele colocou toda aquela nuvem para dentro. Sem efeito imediato. Sem efeitos. Era assim que ele se encontrava olhando para o espelho com o terceiro cigarro da manhã - sem efeito.

Existe o banho que por obrigação teria de vir. Mas ele não vive por obrigações. Nunca se cobrou por nada, não vê motivo para isso. Deitou na cama, esperando o efeito. Nada de efeito nessa manhã. Nada de ações para sua vida nessa manhã. Como entreter o cara do prédio da frente que o observa todas as manhãs? Então ele, resolveu fazer café. Apertou o botão e puff, o café já estava na mesa. Tomou no gargalo do bule reformado por ele para que possa sempre tomar no gargalo. Afinal, ele agora mora sozinho, não tem nada pra dividir. Só divide sua manhã com o cara da frente. Mas nem o café tem efeito nessa manhã. Com a certeza que nada mudaria naquela manhã, resolveu escrever uma carta para quem entrar pela porta sem bater, jurando que é dia de festa. Escreveu, no criado-mudo agora sem nuvens de areia, deixou. Voltou a dormir.

domingo, 2 de outubro de 2011

19:23 - primavera.

talvez é só loucura mesmo que invade todos núcleos de minhas células irracionais.
hoje, amanhã e ontem quero você do meu lado, sonhando no meu peito sem pensar em todo o concreto que existe lá fora.

fui pré-destinado a ser, mas há insuficiência de todos os lados, adoeço.

domingo, 4 de setembro de 2011

(...)

.. o calor de nossos corpos, juntos, como se fosse a primeira vez, o seu coração batendo em cima do meu, o meu coração se chocando com o seu, minha pele que nunca acreditou em outras peles ficou toda sem jeito, reconhecendo a sua, desejando sua pele desconhecida-familiar. Toda aquela orgia de corpos virgens, dois minotauros em cima de um tablado sem cor, pintando as quatro paredes como um céu de setembro.

Eles