terça-feira, 11 de outubro de 2011

#10-11 10:36 - Moonshiner - Cat Power

Praticamente tudo amanheceu escuro, cinzento, um azul mórbido e parado. O sol ali estava, mas pouco importava, ela não amanheceu loiro, nem avermelhado, muito menos com um laranja-nascer-do-sol. Para ele que acordou com o cigarro na boca, notou que as únicas cores mais atraentes eram de seu isqueiro, que eram visíveis em: 1, 2, 3, no máximo 4 segundos. Ele tentou reanimar- se nessa manhã. Mas ele já leu todos os livros de sua prateleira. Alguns até duas vezes. A agulha do seu toca-disco amarelo estava quebrada, nada de música nessa manhã. Nada para essa manhã.

Deitou. Seus sentimentos foram embora de madrugada. Ascendeu outro cigarro. Filtro vermelho, claro. Dor no peito, uma dor de nada, de não existir nada. Lembrou que hoje tem que ir pro escritório, mais um nada no seu dia. Sua droga estava no criado-mudo, sem pensar muito, e sem auxílio de canudo, papel, nota de 5 reais, ele colocou toda aquela nuvem para dentro. Sem efeito imediato. Sem efeitos. Era assim que ele se encontrava olhando para o espelho com o terceiro cigarro da manhã - sem efeito.

Existe o banho que por obrigação teria de vir. Mas ele não vive por obrigações. Nunca se cobrou por nada, não vê motivo para isso. Deitou na cama, esperando o efeito. Nada de efeito nessa manhã. Nada de ações para sua vida nessa manhã. Como entreter o cara do prédio da frente que o observa todas as manhãs? Então ele, resolveu fazer café. Apertou o botão e puff, o café já estava na mesa. Tomou no gargalo do bule reformado por ele para que possa sempre tomar no gargalo. Afinal, ele agora mora sozinho, não tem nada pra dividir. Só divide sua manhã com o cara da frente. Mas nem o café tem efeito nessa manhã. Com a certeza que nada mudaria naquela manhã, resolveu escrever uma carta para quem entrar pela porta sem bater, jurando que é dia de festa. Escreveu, no criado-mudo agora sem nuvens de areia, deixou. Voltou a dormir.

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Eles