sábado, 2 de abril de 2011

#18:04

e ela produzia um choro agudo no meio de todo aquele silêncio urbano. Ela precisava fumar, não podia, algo impedia seus pulmões de trabalhar. Em segundos, chuva. Esta foi a quebra de seu choro, de todo aquele silêncio da cidade. Ela é muito egoísta e não gosta de dividir seu choro com o choro do céu. Deitou-se, reclamou com as nuvens, fez um pedido pra lua.

Parada. Cabelos bagunçados. Olhos arregalados. Alguns raios em sua volta. Seus braços congelados. Naquele momento ela não sabia distinguir o que era ela, o que estava acima de seu estado ser, do que ela nunca foi, do seu íntimo, do seu secreto, do seu imaginário. Ela não conseguia ser. E isso provocava uma raiva infinita naquele pequeno corpo que agora batia em todas as paredes, atravessava as nuvens e fazia a chuva parar e os raios se acalmar. Era sua vez de chorar. O choro maior tinha que vir dela, de seus olhos, nariz, boca e pele. Ela era a dona do choro maior. Agora tremia. Ascendeu o cigarro, boca torta e trêmula. Ali era como café sem açúcar. Como agulha no vinil.

2 comentários:

Victor disse...

Não seria tão bonito se não fosse melancólico. Seus textos são ótimos.

Abraço.

Natália Corrêa disse...

Acho que ela precisa de um abraço.
Acho que ela quer ser ouvida entre os trovões e os carros que passam, entre a chuva que cai pra roubar a tristeza que é dela e só dela. A razão de um abraço.

Eles