segunda-feira, 12 de julho de 2010

#12/07

Ela resolveu ir até a outra linha do metrô. A linha que em plena segunda- feira perdia totalmente o sentido. Mas era isso que a deixava bem. Ela só queria andar e observar as pessoas. Parava de vez em quando para reparar nas atitudes a sua frente - naqueles que tinham pressa, naqueles que se divertiam, naqueles que choravam, naqueles felizes demais, nos perdidos, nos novos, velhos, sábios e aprendizes de sábio. Ela achava tudo aquilo surreal para uma segunda- feira. Acendeu um cigarro.

Observei o cigarro queimando em sua mão congelada. Não, este cigarro não foi feito para tragar. Apenas para ver o tabaco ser queimado. Isso era de competência dela, somente dela. Desta garota que agora derramava lágrimas envergonhadas. Alguma tristeza atacaou a jovem? Alguma felicidade? Lembrança? Ou apenas emoção de queimar o tabaco e não tragar seu pulmão?

As lágrimas não podiam ser disfarçadas. Ela estava numa avenida movimentada e todos observavam aquela beleza molhada. Ela tentava fingir que era de felicidade. Mas jovem, desculpa, você sabe muito bem que tem lágrimas que não tem como disfarçar, e todos nós sabemos, isso é tristeza pura. Não quero julgar vossa senhoria, não quero achar que posso medir teus sentimentos, mas pelo menos encare suas tristezas.

Logo percebi que um rapaz se aproximava. Este rapaz, morador de rua, sem medo de tristezas chegou próximo a jovem, se entregou aos olhos mel da jovem e jogou para ela uma única palavra: encare. A jovem, sem reação, olhou para o morador da terra, desviou o olhar e agradeceu, de tal forma que ele e nem ela mesma conseguiu ouvir. Este, foi embora, sabia que o que poderia fazer pela criança, fez.

A jovem por um momento sofreu por dentro, abriu a bolsa e dessa vez acendeu um cigarro, tragou, tragou, tragou e jogou o médio cigarro no chão. Não era suficiente. Procurou a praça mais próxima, sentou num muro, pegou seu livro de capa clara, e acendeu seu radioativo e tragou como se a vida terminasse ali. Ou começasse.

2 comentários:

Arthur Dantas disse...

gersinho, adorei!

vc tem um jeito muito lindo de escrever!

Amanda Galdino disse...

Certos vícios são mais viciantes que outros.

Eles