sexta-feira, 19 de março de 2010

#

Essa manhã acordei bem. Não estava sujo muito menos lavado. Estava no meu estado mais seco e parado. Ainda não havia aberto meu olhos, que nem estavam tão vermelhos, não quanto ao resto do meu corpo. Lentamente fui descobrindo qual era o status do meu quarto, da minha vida, ou não, ou eu só estava acreditando numa mentira minha, uma mentira só minha, só pra mim e inteiramente em mim. Nada estava em seu devido lugar. Nem meu corpo. Ele amanheceu em cima de minha gaveta de meias e cuecas. Era um corpo suado, assexuado e virgem. Meu nariz não amanheceu sangrando como minhas manhãs normais. Tentei olhar pra mim. E ah. Este que se virava ao espelho atrás da porta não sou eu. É um outro, uma outra coisa que não sei o que é. Pode até ser que seja eu mesmo, mas um eu lírico desconhecido pelo leitor que não lê nem papel do pão, - volte sempre nunca me agradou. Se um dia agradou alguém esta frase escrota e cheia de falsidade é porque ela realmente não voltou. Aonde leva volte sempre todos os dias? À conta do dono rabugento da padaria, que não é português, é brasileiro mesmo. Entenda porque eu dispenso as sacolas simpáticas e capitalistas, sugadoras de suor humano.

Volto à cama que me esperou por tantos dias. Preciso conversar com ela, comigo e com você, talvez.

Preciso me internar com uma plaquinha de necessidade. Necessitar- me de algo que nunca vi e nunca senti, e se já, é uma coisa que não me recordo: o tão falado do eu mesmo, que nunca veio me encontrar.

Um comentário:

Fernanda Zanol. disse...

É, tem dias que a gente não se reconhece. Aliás, será que a gente sabe mesmo quem a gente é?...

beeeijo ;*

Eles